quinta-feira, setembro 07, 2006

Grande Paulo Hecker

Fiz esta ilustração pra uma resenha do Paulo Hecker Filho publicada num jornalzinho da Feira do Livro de alguns anos atrás. O Paulo Hecker é um dos poucos escritores gaúchos que realmente me impressiona. Poeta, contista, ensaísta e crítico literário sem paralelos por estas bandas (na verdade só consigo relacioná-lo a Otto Maria Carpeaux, outro monstro sagrado das letras), morreu recentemente e deixou de herança pra um outro Paulo, amigo meu, a maior biblioteca pessoal do Rio Grande do Sul. Não é pouca coisa, eu gostaria de ganhar um presente assim. Buenas, também não é pouca coisa os livros que deixou escritos para quem quiser conhecê-lo ou revisitá-lo. Eu tenho alguns livros do homem lá em casa, mas não os trouxe, por isso tive que sair à cata de um poema dele na internet pra publicar aqui. Como tenho uma filha em vias de completar dez anos de idade, achei e resolvi publicar este:

OS FILHOS CRESCEM

Os filhos crescem.
Aquela coisa mais querida do mundo
de repente tem opinião,
derrama por querer a sopa toda,
não para de chorar de pura raiva.

Os filhos crescem.
Querem entrar no grupo que os não quer,
pedem briga, dão gritos pela rua
a clamar eu sou eu
por não saberem quem são.


Os filhos crescem
e ficam diante de si como num ringue.
Vão se bater até beijar a lona?
Se duvidarem, vão.


Os filhos crescem.
Desenha-se a existência em cada um,
os pais ficam olhando, que fazer?
E mesmo quando acertam, que é que muda?

Os filhos crescem
e não adianta se querer dar tudo,
nem a alma.
Desejam outras almas,
são outros.


Os filhos crescem.
Sem ler nossos romances para eles,
se metem em capítulos inéditos.
Já não são nós, se sentem vitoriosos.

E continuamos eles...

2 comentários:

Cé S. disse...

PHF também é tradutor de Apollinaire. Tô relendo o livro publicado pela L&PM em '84.

Anônimo disse...

Sabe o que acho triste? Até onde eu sei, ele teve dois filhos, uma moça e um rapaz, e os dois, subvertendo a ordem natural das coisas, morreram antes dele...